quarta-feira, 25 de novembro de 2009


O governo da República recém-instaurada precisava de dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presente no Sertão pela cobrança de impostos. No entanto, a região na época passava por uma grave crise econômica e social. A escravidão havia acabado a poucos anos e, ex-escravos e milhares de sertanejos estavam a vagar sem ter como sobreviver. Unidos na crença de uma salvação milagrosa, seguiram em direção a Canudos (cidadela liderada pelo peregrino Antônio Conselheiro).
Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja, iniciaram um forte grupo de pressão junto à República, pedindo que fossem tomadas providências contra Antônio Conselheiro e seus seguidores.
O exército foi mandado para Canudos. E três expedições militares saíram derrotadas. Somente na quarta expedição a guerra terminou com a destruição de Canudos. No entanto, o governo ainda temia a essa tão forte população.
E hoje nos perguntamos... Por que construir um açude sobre a cidade de Canudos?
Quais os critérios que fizeram o governo escolher Cocorobó e rejeitar as tantas outras opções?
Na decisão de construir um açude, não somente “aspectos técnicos” (clima, topografia, vazão de água, impacto ambiental, etc.) devem ser levados em conta. Existem critérios que devem ser relevantes dessa decisão: a presença de povoações e a importância histórica da mesma. O desprezo a esses fatores com relação a Canudos nos faz perceber que a elite atropelou a “neutralidade técnica”, à favor de seus interesses.
Um exemplo bastante ilustrativo ocorreu no final dos anos 80, quando Peter Cook, um renomado arquiteto inglês, sugeriu que todo o Centro Histórico da capital baiana fosse destruído, e em seu lugar erguido modernos edifícios. A elite cultural e política da Bahia ficou histérica e repudiou essa proposta o governo gastou mais de U$ 35 milhões para revitalizar os velhos casarões símbolo maior da arquitetura colonial das elites.
Mas o que estava em jogo, em Canudos não era a inundação de um pedaço de terra qualquer. As águas do açude de Cocorobó cobriram uma área onde ocorreu uma das mais importantes manifestações populares do mundo, que envolveram distintos interesses políticos e econômicos, gerando uma guerra que durou um ano culminando numa chacina de milhares de pessoas, que manchou com sangue os brasões da República e do Exército.

Um comentário:

  1. ola,
    o nosso tema é samelhante e expressa o mesmo caráter messiânico de contestação ocorrido nos diversos lugares brasileiros, revelando que os pobres resistem aos dominantes e que procura solução aos problemas sociais.

    bom trabalho.

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